31 de outubro de 2004

Diário de uma Terapia - Apresentação da obra, perante uma centena de amigos da autora

Não podia pois deixar ao acaso, ou quase ao acaso, o desempenho das minha funções, que quero agradecer à Ana, pois apesar de me intimidar este papel, sinto-me muito lisonjeada.

Por isso preparei-me ou tentei preparar-me, como nunca tinha feito antes para prova nenhuma. Espero estar à altura.

É mesmo uma honra.

Investida por essa honra e pela amizade fraterna que já tem mais de trinta anos , abro, ou reabro, os trabalhos desta assembleia, dos quais consta um ponto único: celebrar a vida, saudando um manual de instruções que nasce hoje aqui, “Diário de uma terapia”.

A vida é assim mesmo.

Dia a dia, construímos os nossos dias!

Dia a dia, ou melhor, sessão a sessão, a dona de uma maminha agredida conta-nos como se pode passar “além da dor”:

(Quem quer passar além do Bojador, tem que passar além da dor),

como é que se retoma o leme, como se enfrentam adamastores, como se prossegue o caminho, atracando a um porto seguro aqui, outro porto seguro acolá.

Quando falamos de Adamastores, estamos a falar de medos.

Não sei se é fácil, nem sei se não é. Certezas tenho de que, não é habitual as pessoas referirem os seus medos mais profundos.

A maminha matreira ousou abrir caminho até esses recônditos da alma.

“Sabemos bem do que estamos a falar, quando falamos de cancro da mama!”, dizemos nós, mulheres. Sabemos, sim.

É de dor.

É de medo.

Mas, como tudo na vida, a experiência é que dá a verdadeira medida. A maturidade dá-nos esse saber. A humildade, porém, dá-nos a dica: Podes e deves aprender com a experiência dos outros.

É também por isso que a Ana escreveu o livro e é também por isso que o devemos ler com atenção.

Vamos conhecer uma mulher como nós tantas que estamos aqui, que tem uma vida profissional e familiar organizada, feita. Ou quase feita, pois nada está terminado. Tudo tem um amanhã.

“trave do teu lar, lume da tua lareira”,

disse Saramago, quando descreveu a avó Josefa. Todas nós somos, ou julgamos ser, o suporte, o aconchego dos nossos e isso dá-nos uma sensação aproximada de felicidade. Sabemos que não há pessoas insubstituíveis, pois todas somos algo especialistas em senso comum. Mas, lá no fundo, acreditamos na excepção, que somos nós, cada uma de nós.

Vamos conhecê-la: quarenta e nove anos, professora de Biologia, casada e mãe de três filhos.

A vida tem um curso. Terá cinquenta e muitos mais, a reforma há-de chegar na altura certa, os filhos seguirão as suas vidas, embora um deles, o mais novo, o mais bebé precise muito ainda de mãe, de colo, de maminha...

O último reduto da satisfação plena da maternidade?! Talvez não.

A filha é uma menina e uma menina precisa tanto de uma mãe! Apesar de já andar na faculdade, a tirar medicina. Mas precisa. Com certeza que precisa!

E lá está outro, a espreitar aflito, do seu cantinho privado no coração da mãe: o filho mais velho. Claro que já tem a sua vida a sua namorada, mas precisa, claro que também precisa.

E o marido? É adulto, crescido e tem mãe!!! Não, não é bem assim. Houve uma transmissão de poderes ao longo da vida e ele precisa dela.

Naquele projecto de família que ao longo destes vinte e sete anos construíram ele é o pilar/par...

E desfilam mais personagens: os familiares mais próximos e os amigos.

Um dia, aparece o nódulo na mama e todas as certezas absolutas se desmoronam.

Talvez não, totalmente não!

As forças entretanto aparecem e vão lentamente impondo uma nova ordem das coisas.

Há decisões a tomar: contar ou não contar, lidar com a própria dor e com a dos outros, com o medo...

Como é que se lida com o medo dos outros, quando esse medo é tão nosso?

É disto que nos fala a Ana, pela voz de alguém atingido por um cancro da mama.

As histórias não se resumem a descobrir um nódulo, ir ao médico, fazer biopsias e operação, quimio e radioterapia. Há um ser inteiro por onde tudo passa. Há uma maminha que nasce junto ao coração, corre em direcção ao pensamento e desagua em estuários vários.

Este estuário é o consultório de uma psicoterapeuta, onde em estilo confessional e intimista se desconstrói e reconstrói a mulher e até a maminha.

Há uma mulher renascida, qual Fénix como podemos ler no poe-mama da contracapa.

Afinal a psicoterapeuta é alguém que também tem mama e também tem medo. Está ali para entender, ouvir e ajudar a murar com sólida esperança o curso de um cancro de mama.

Ouvi-la ou lê-la mexe com os lados todos da sensibilidade.

E aqui estamos, banhados e abençoados pela tal emoção, a agradecer-te, querida Ana, (Querida Nini) teres posto o teu entendimento destas coisas da alma e do sofrimento e da maminha ao dispor de todos, com tanto gosto, tanta arte e tanta informação.

Obrigada.

Não contente com registo belo, poético muitas vezes e enriquecido de referências que nos dão a dimensão da sua cultura literária, artística, a Ana elaborou um glossário, com as palavras todas que são necessárias para escrever a coragem desta e de todas as mulheres que rejeitam ser olhadas apenas com olhos apiedados e tristes.

A vida está do lado dela, do lado delas. Do lado, da Maria a quem é endereçada uma carta, ou seja, uma homenagem em estilo epistolar.

Falta referir ainda os dois depoimentos médicos, eivados de humanidade, daquela humanidade de “gente” que todos e todas os que sofrem querem encontrar, para lá da bata, do bisturi, do estetoscópio.

Por tudo isto, repito, só há uma coisa a fazer hoje aqui: celebrar a vida!

Estamos todos aqui por tua causa e por causa do teu livro. Estamos aqui para celebrar o momento em que simbolicamente passas as tuas palavras para os outros, para nós, para todos os outros que nós hoje aqui representamos: o universo dos teus leitores.

Mais uma vez, obrigada.

3 comentários:

Thita disse...

Olá, bom dia.
Ainda só vou no princípio e já estou a adorar.
Estou a crescer com gente como a Madalena.
O meu beijinho de reconhecimento por isso.

Anónimo disse...

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