9 de maio de 2009

Odeio amar-te tanto!

Miguel Esteves Cardoso Ainda ontem - 20090509
Como também faço, nunca reparei. Mas é capaz de ser a faceta mais assustadora dos portugueses: quando elogiamos uma coisa, parece que ficamos zangados. Se dissermos que gostamos muito de uma coisa, o tom da voz e o carregar das sobrancelhas são agressivos: "Adoro pastéis de bacalhau! Sou muito amigo dele! Sou do Benfica!" As nossas declarações de amor são exprimidas como se estivéssemos numa batalha até à morte, a defender a coisa amada do ataque traiçoeiro dum inimigo.Como também faço, nunca reparei. Mas é capaz de ser a faceta mais assustadora dos portugueses: quando elogiamos uma coisa, parece que ficamos zangados. Se dissermos que gostamos muito de uma coisa, o tom da voz e o carregar das sobrancelhas são agressivos: "Adoro pastéis de bacalhau! Sou muito amigo dele! Sou do Benfica!" As nossas declarações de amor são exprimidas como se estivéssemos numa batalha até à morte, a defender a coisa amada do ataque traiçoeiro dum inimigo.
Pergunta-se calmamente: "Gostas do Mosteiro da Batalha?" E a resposta vem carregada de sobrolho e de padaria aljubarrotense: "Adoro o Mosteiro da Batalha!" Está-se sempre à espera que completem a confissão com um "Porquê? Há azar? É que se houver, vou-te já aos cornos!".
Podemos estar a falar da mãe, do cozido à portuguesa, de Amália, de Sófocles ou dos dias enevoados de Maio. Outros povos, quando elogiam uma coisa, reflectem na cara e na voz a estima que lhe têm, ficando enlevados, carinhosos e felizes: "Oh, I love pastéis de bacalhau, she's a good friend of mine, etc..."
Até parece que suspiram um bocadinho de portuguesa saudade dessa coisa quando falam dela. Nós não. Isso para nós é muita complicação, estar a adequar a cara que se faz ao que sente o coração. Parece falso, não é? É por isso que preferimos dizer que amamos com a mesma voz e a mesma tromba que usamos para dizer que odiamos. Sem pestanejar sequer. Ah leão!
É incrível: até com robertos se consegue melhor.

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