13 de novembro de 2004

Lobo Antunes, aos 25 anos... de escrita

"Não Sou Eu Que Escrevo Os Livros. É a Minha Mão, Autónoma"
Por Adelino Gomes
Vai para quatro meses que António Lobo Antunes mergulhou no universo ficcional que há-de constituir o seu 18º romance. Dele, apenas saberemos o ponto de partida - como a noite se faz dia; que o habitam duas mulheres e um homem; e que este terá pertencido à Pide. O resto é uma "nebulosa" que a "mão, autónoma" do escritor percorre e desvenda através das palavras. Várias horas por dia, numa acanhada mesa de tampo de vidro, onde se misturam as folhas já escritas, com originais enviados, para apreciação, por candidatos a escritores.
A celebração dos seus 25 anos de actividade literária, assinalada pela sua editora, Publicações Dom Quixote, com o lançamento de "Eu Hei-de Amar uma Pedra", obrigou Lobo Antunes, porém, a regressar ao convívio das personagens que habitam as 616 páginas deste seu último romance.
A história é do domínio público desde o lançamento do romance anterior, "Boa Tarde às Coisas Aqui em Baixo", em 2003. Os leitores não conheciam ainda o seu novo livro, e já o escritor, impressionado, lhes desvendava a trama do próximo - o desencontro amoroso de um homem e de uma mulher que se amaram aos 17 anos; se perderam (ela doente num sanatório, ele a tirar um curso superior, em Lisboa, e a supô-la morta); se reencontram quando ele, tirado o curso, já tem mulher e duas filhas; e se voltam a amar, de um amor nunca consumado, na clandestinidade de um quarto de uma pensão na Graça, de passeios ocasionais a Sintra, do aluguer de toldos quase contíguos na praia de Tavira, durante as férias do Verão - a mulher a fazer crochet, sem levantar os olhos nunca para o homem estendido ao sol com filhas, genros, esposa. O homem morrerá já octogenário, num dos encontros platónicos no quarto da hospedaria da Graça.
António Lobo Antunes passou todos estes dados pela sua refinadora literária. É desse processo criativo "prodigioso e singular" que o autor nos fala.
Mil Folhas - "Eu Hei-de Amar Uma Pedra" nasceu de uma história que lhe contaram no Miguel Bombarda, quando ia a passar uma senhora de 80 e tal anos. Mas dela está só o osso...
António Lobo Antunes - Está toda desmantelada...
P. - Porquê?
R. - Como digo sempre, só começo um livro quando estou certo de não ser capaz de o escrever. Para contar aquela história assim, é necessária uma delicadeza de mão que eu não tenho.
P. - Pensei que ia responder com outra coisa, que costuma dizer também: "A intriga é o prego onde se pendura o quadro."
R. - Não imagina: dos primeiros capítulos fiz oito, nove, dez versões. Eram todas muito más. Normalmente são-no, mas depois consegue-se tirar delas o capítulo. Fui deixando passar o tempo, deixando que aquilo dentro de mim se transformasse. O livro nasceu sem plano. Tinha pensado fazer o livro com fotografias. Mas percebi que não era possível, que tinha que mudar de voz. Aquilo no fundo é polifónico. É uma voz sempre a falar.
P. - Polifónico, mas dissonante. As suas frases têm vozes que soam como música concreta...
R. - É uma única voz que fala. Mas eu não quero magoar nenhuma daquelas pessoas. Não as conheço, mas elas estão vivas. Vi a senhora três segundos, a passar, numa porta. A partir do que vi, podia fantasiar.
P. - Quando ouvi a história, contada por si nas sucessivas entrevistas, também a "vi" - no toldo em Tavira, a passear em Sintra, na hospedaria na Graça. Mas fiquei quase 90 páginas à espera que me aparecessem os primeiros sinais dela. Esteve a esconder-nos aquilo que sabia que queríamos? Porque, como já disse, é uma história "desgarradoramente bela"?
R. - É muito difícil de contar. Tem que ser contada com uma mão de escriturário, quase. Há um ponto essencial, também no jornalismo, que é a retenção da informação. E dá-la de uma forma lateral. Como os grandes romancistas policiais fazem. Olhe, esses manuscritos aí [três ou quatro, pousados do lado direito da secretária de vidro] são primeiros romances. Dizem tudo. São maus porque dizem tudo.
Pudor na vida, pudor na escritaP. - Achou que a melhor maneira de defender a história era sugeri-la apenas?
R. - Isso seria de uma grande elegância da minha parte, mas não seria honesto dizer que foi por isso. Há quatro ou cinco meses recebi uma carta que vem na "Fotobiografia" [organizada por Tereza Coelho e que acaba de ser lançada pelas Publicações Dom Quixote], na qual o meu editor francês, Christian Bourgois, dizia: "Tenho um cancro." Depois pediu-me para o ir ver. O patrão dele, que era o [René] Juliard, tinha morrido com um cancro do esófago. A coragem e a serenidade dele deixaram-me estupefacto. Quando me despedi, disse-me: "Não te preocupes comigo." Foi operado, está melhor, construíram-lhe o esófago a partir do estômago, há dois dias telefonei à mulher e disse-lhe que ele tinha uma coragem extraordinária. Ela respondeu: "Não. É elegante." Encontrei isso no Ernesto [Melo Antunes, seu comandante na guerra em Angola, falecido em 1999]. Tinha um cancro do pulmão, inoperável. Dois dias antes de morrer disse-me: "Esta manhã acordei todo molhado. Não me deixes morrer sem dignidade." Foi a única vez que ele se referiu à doença. Aqui há uns temos a filha mais velha - comove-me até as lágrimas ver a miúda, é tão parecida com o pai - contou-me que estavam a almoçar (são três irmãos, duas raparigas e um rapaz) e o pai disse-lhes, no meio da sopa: "Tenho um cancro do pulmão." E continuou a comer. É este pudor, é esta contenção que a gente tem que tentar transpor para aquilo que escreve. E para a nossa vida, até. O meu pai, no fim da vida, já muito mal, o que dizia era: "Nada de pieguices." P. - O contar desta história é também assim. Mas há um paradoxo aí, porque, no fim de contas, desnuda tudo.
R. - Um amigo tem dentro de si um lugar insubstituível, a gente perde-o e continua a ter saudades dele. E depois cada um tem o seu lugar. Estou a chegar à idade em que, como gosto de homens mais velhos do que eu, com quem aprendo, os meus amigos vão morrendo e isso custa-me muito. Ver o Eugénio de Andrade no estado em que está... Outro dia estava a olhar para o Eduardo Lourenço e a pensar: "Livra-te de morreres antes de mim!" A morte de um amigo é muito dolorosa. P. - Esta senhora que perpassa no livro e que viu três segundos podia ser sua amiga? Ela no livro não diz nada, faz "crochet" e deixa que a mão do amado pouse sobre a dela, todas as quartas-feiras, num quarto alugado de uma hospedaria. Não teve a tentação de a conhecer?
R. - Não quis conhecê-la porque senão depois não podia escrever. Não posso agarrar em si e pô-lo num romance. P. - Ora essa, tem tantas personagens reais nos seus livros...
R. - Reais? É um pouco como a Lisboa cenário de alguns livros, é uma Lisboa inventada. P. - Não tem tias nos livros?
R. - As tias que aparecem nos livros também as conheci assim. Eram tias do meu avô. Eram senhoras que vinham do Brasil e que viviam nuns andares muito escuros. Eu era pequeno e ia lá com o meu avô. Ficava ali, num canto. Seria incapaz de pôr um irmão meu como personagem. O Ernesto, por exemplo, aparece em "Os Cus de Judas". Mas a nossa relação nessa altura não era a relação de irmãos em que se foi tornando. O que ponho num romance são um nariz que apanho ali, uma feição, um gesto. P. - Neste livro há apenas o pequeníssimo círculo familiar e mesmo esse reduzido a breves frases, ou a cenas escondidas, às vezes de ordem sexual. O meio ambiente é assim tão irrelevante?
R. - Tenho a sensação que não sou eu que escrevo os livros. É a mão. Escrevo sempre à mão. O meu problema é estar suficientemente cansado até a mão estar autónoma e tornar-se feliz. P. - A isso chamava-se dantes, romanticamente, musas.
R. - Por que é que um dia faço uma página, outro dia faço quatro linhas e outro dia estou três horas e nem uma palavra sai? O que é que faz que isto varie? Depois, comecei a dar-me conta de que adormeço a ler. Há aquela altura em que se está entre o dormir e o acordar e se flutua. Depois, quando despertava, percebia que não estava a ler o que estava ali escrito, estava a ler outras coisas que eu julgava que estava a ler e que não eram o livro. Então pensei (isto já foi há uns anos): eu tenho é que conseguir um estádio próximo deste para escrever. E depois, bem desperto, estruturar isto tudo. P. - Precisava de inventar um heterónimo, porque já não é o António Lobo Antunes que está a escrever?
R. - É qualquer coisa dentro de mim que é anterior às palavras e em relação à qual a crítica racional não funciona. O meu problema é atingir esse estado. Preciso de estar cansado para aquilo começar a sair. P. - Um pouco esotérico, isso, não acha?
R. - Não acho nada. Não vê que em todos nós existe isto? Por exemplo, está a sonhar e de repente compreende que descobriu o segredo do mundo e da vida. Tem consciência de que está a dormir e quer acordar. E, à medida que vai acordando, isto vai-se esfumando, esfumando, esfumando. Quando chega à superfície, isto não tem nada. Nunca lhe aconteceu? P. - O que me dá ideia é que isso é a parte em que eu sou menos eu. É a parte em que eu tenho menos mérito. Aliás, costuma dizer que trabalha dez, 12 horas por dia.
R. - Mas eu não penso em termos de mérito. E isso não é mérito. Muito mais trabalha um operário. Não faço mais nada, sou pago para isso. P. -E fica à espera de entrar em estado de dormência?
R. -Não preciso de estar à espera, preciso de provocá-lo. Isso consegue-se através do cansaço.
"'Ulisses', de Joyce, irrita-me"
P. - Não acha que está a menorizar o seu talento, a sua inspiração?
R. - É qualquer coisa que existe dentro de si e em lugares a que a gente não tem acesso - que nos aparece nos sonhos, nos aparece nos impulsos, nos aparece, por exemplo, na escolha dos amigos. É completamente irracional. Porque é que eu hei-de gostar de A e não de B? Até a escolha dos partidos tem muito de afectivo. Eu não escrevo aquilo que quero. Escrevo aquilo que o livro quer.
P. - Escrever o que o livro quer não poderá levar o autor ao culto da forma, paradoxalmente?
R. - O "Ulisses", de Joyce, irrita-me. Por um lado, não posso deixar de admirar as habilidades formais dele; por outro, irrita-me, porque é uma pirueta, não é eficaz. Convidam-me muitas vezes, porque pensam que um escritor diz coisas inteligentes. Esperar que um escritor diga coisas inteligentes é o mesmo que esperar que um acrobata ande aos saltos mortais pela rua. O que eu sou fundamentalmente é um homem comum, cujo trabalho é este. Construí toda a minha vida, desde que me conheço, para isto. Não tem mérito nenhum. É preciso trabalhar muito. Ler muito. Ter uma atitude humilde perante a vida. Ser uma espécie de esponja onde as coisas entram e saem.
P. - Ser um grande escritor é isso que me diz?
R. - Ser um grande escritor é produzir um objecto que, quando eu o leio, foi escrito só para mim. Os outros exemplares dizem coisas diferentes. E não o empresto, porque há uma relação pessoal entre mim e esse livro, que me está a falar de mim mesmo e que me está a mostrar zonas minhas que me iluminam. Um grande escritor é um homem que faz um espelho onde eu vejo o homem nu que sou.
Contar só a história não dáP. -Neste último livro são várias as alusões a situações sexuais de carácter incestuoso. É novidade nos seus livros, não é?
R. - Neste [que o autor já está a escrever], há bocado, também notei que havia isso. P. - Há o pai com a filha, naqueles apertares de mão no circo. E há depois na relação mãe-filho algo que decorre no plano onírico...
R. - Não era uma decisão consciente, não era uma ideia clara na minha cabeça. Agora este está a fugir-me por todos os lados. P. - E já lhe apareceu também o incesto?
R. - Há aqui um capítulo... O tipo da Pide [personagem do próximo romance, sobre a madrugada e a a manhã - ver entrevista do autor ao PÚBLICO de 9.11.04]... este homem... não se percebe bem, está sempre à procura de justificações... Está uma nebulosa ainda muito grande. P. - No novo livro está portanto ainda à procura. Mas no anterior não: partiu já com a história toda. Do que é que andou à procura, naquelas primeiras páginas e páginas iniciais, em que não nos dá a ver os dois amantes centrais?
R. - Quando eu comecei a fazer consultas de psicoterapia, o homem com quem eu tinha aprendido a técnica toda dizia-me: "Agora esqueça-se e vá lá para dentro." Você tem a história. Mas ela vai aparecer-lhe fragmentada. É um desafio óptimo, do ponto de vista técnico. Nem imagina o que tem que se lutar para reter aquilo. Dá vontade de dar logo aquele bombom. P. - Mas depois acaba e nós sentimo-nos ainda com um pouco de fome da história. A sua mão cheia de pudor deu-nos os traços e foi-se embora.
R. - A tendência natural é: "Toma lá!" O difícil é mantermo-nos no gume. Mas contar só a história, depois escrita, não dá. Já reparou nos grandes romances? [O que é] "O Velho e o Mar" [1952, Ernest Hemingway]? É um velho que vai buscar um peixe, os outros peixes comem-lhe o peixe e ele chega a casa sem peixe. "Anna Karenina" [1877, Leão Tolstoi]? Uma mulher que é casada, está farta do marido, vai para a cama com outro, arrepende-se e morre. O que é a "Odisseia" [escrito por Homero, provavelmente no século VIII a.C.]? Tenho a minha mulher à espera. É só isto, umas coisas que o gajo arranja para não ir para casa. P. - Este livro é sobre um homem e uma mulher que se amaram uma vez, perderam-se e reencontraram-se, quando já não se podiam amar. Mas que se amavam e por isso se encontravam às escondidas sem quase se consentirem amar...
R. - ... e aparece muito menos no livro toda essa dimensão amorosa. Como é que se faz isso? Desmantela-se a história. E, no entanto, mantém-se lá. P. - Desenhada em pinceladas muito vagas, assim à Renoir.
R. - Então fico contente. Mas penso que a leitura não oferece problemas. P. - Que lugar ocupa na sua lista das melhores obras?
R. - Aí estou de acordo com o meu agente: tenho feito livros [cada vez] melhores. Por enquanto. E daí o meu medo com este agora [que está a escrever]. Esse que sai já o acabei há um ano. Continuo contente com ele. Tenho orgulho em tê-lo escrito.
CAIXA
Muro de Berlim e o "ilimitado"
O escritor habitava em Berlim, ainda separada por um muro que dividia a Alemanha em dois regimes antagónicos. Além da experiência vivencial "extraordinária", foi esse o momento em que descobriu outra forma de escrever um romance.
Mil Folhas - Diz que não escreve aquilo que quer, mas aquilo que o livro quer. Pode explicar melhor?
António Lobo Antunes - Não sei. Não é nada racional. Ao princípio fazia planos todos muito detalhados - antes de começar a escrever, o que me tirava a surpresa do livro. Comecei assim o "Tratado das Paixões da Alma" [1990]. Com um plano. Na altura [1989] vivia em Berlim, com uma bolsa. O meu vizinho de andar era o Luigi Nono, compositor [italiano, falecido no ano seguinte], casado com a filha do [compositor, falecido em 1951 Arnold] Schönberg. P. - Também estava lá com uma bolsa?
R. - Sim, uma bolsa da cidade de Berlim Ocidental. Era uma cidade espantosa: na mesma noite tínhamos um concerto da Filarmónica, um concerto da Sinfónica de Karajan, outro do Charlie Mingus... P. - ... e mais 400 espectáculos na área do "off-off"...
R. - ... galerias abertas toda a noite, discotecas, sítios com poetas a dizerem poesia... E depois, de repente, caiu o Muro. Uma experiência extraordinária. P. - E o António a escrever.
R. - Tinha começado o livro dois meses antes. Andei ali, para trás e para a frente com o primeiro capítulo, e percebi que aquilo não voava. Depois lembrei-me de uns versos do Apollinaire ["La jolie rousse", poema a Jacqueline Kolb, 1917]:
"Pitié pour nous qui combattons toujours aux frontières
De l'illimité et de l'avenir"
Pensei: "Eu tenho que escrever coisas passadas no ilimitado..." Correr mais riscos. Ser mais honesto para comigo mesmo, ou seja, não me mover num terreno que já conheço mais ou menos bem, até do ponto de vista verbal. Tentar escrever aquilo que eu não sou capaz de escrever. Por exemplo, no "Eu Hei-de Amar Uma Pedra", aquilo estava uma luta. Depois de escrever isto e isto e isto, dizia: "Não presta, não presta, não presta." Depois: "Não vou deixar que um livro me vença." Julgo que era o Jules Renard que dizia que não havia talento, havia bois. P. - Havia?...
R. -Bois. Que não havia nenhuma frase que um principiante não pudesse fazer, que um livro é trabalho. Eu penso que é. E então temos que o escrever com a chamada "eficácia". Eu entendo por eficácia o não sacrificar a tentação de uma bela metáfora, de uma imagem bonita, ao seu material. Não estarmos a dizer ao leitor: "Repara no que eu sou capaz de fazer." O livro é que tem que ser inteligente, não o escritor. P. - Esse encantamento em Berlim, que o levou a mudar de registo, faz lembrar a noite de êxtase contada por um escritor de quem, julgo, não gosta muito, sobre o nascimento de um heterónimo: Fernando Pessoa [sobre Alberto Caeiro, em 8 de Março de 1914]. O António Lobo Antunes, que fala em trabalho e em eficácia, em êxtase?
R. - Às vezes a gente põe-se a pensar: como é que eles descobriram os Açores? E a Madeira? A gente trabalha no escuro, mas tem que navegar na direcção certa. Não é por acaso que aquilo acontece. Não é por acaso.
DESTAQUES
Estou a chegar à idade em que, como gosto de homens mais velhos do que eu, com quem aprendo, os meus amigos vão morrendo e isso custa-me muito.
Esses manuscritos aí [três ou quatro, pousados do lado direito da secretária de vidro] são primeiros romances. Dizem tudo. São maus, porque dizem tudo.
[Escrever] é qualquer coisa dentro de mim que é anterior às palavras e em relação à qual a crítica racional não funciona.
Ser um grande escritor é produzir um objecto que, quando eu o leio, foi escrito só para mim. Os outros exemplares dizem coisas diferentes.
Tenho feito livros [cada vez] melhores. Por enquanto.