2 de dezembro de 2005

Depois...

Cinco anos mais tarde, Evangelia e George separam-se e a mãe regressa à Grécia com as duas filhas, mudando novamente o apelido para Kalogeropoulos. No ano seguinte, Maria é admitida no Conservatório Nacional de Atenas, apesar da idade não ser a legalmente exigida. Começa então os estudos musicais, sob a orientação de Maria Trivella e no mesmo ano, a 11 de Abril, faz a primeira aparição em público, num recital, juntamente com os outros estudantes do Conservatório.
Os dados do destino estavam lançados, pelo menos no que dizia respeito ao talento e à voz da diva do bel canto. Ainda na Grécia, viveu momentos difíceis. No entanto, foi aqui que começou o deslumbramento dos músicos com a sua voz. Maria é convidada a substituir a soprano, que adoecera subitamente, na Opera “Tosca” de Puccini, numa representação ao ar livre. Maria, ao longo desses anos, não tinha parado nunca de estudar, de aprender e de cantar, mas esta foi a sua oportunidade.
No ano seguinte começa a preparar o seu regresso aos Estados Unidos, em busca de sucesso, à procura do pai, mas sobretudo de estabilidade política, da paz, que entretanto já se anunciava na Europa, com o fim da guerra. A 3 de Agosto de 1945, Maria despede-se de Atenas num concerto, o primeiro recital a solo, iniciativa que tem como objectivo angariar fundos para a passagem. Em Setembro parte para os Estados Unidos.
Apesar das audições quase imediatas para a Ópera Metroplitana, não parecia fácil arranjar trabalho, um contrato que lhe trouxesse aquilo que sonhava, que procurava e merecia, não só pelo talento natural, como também pelo trabalho árduo, que nem em tempos de glória e de sucesso deixou de ter. “Eu não confio na glória.” Diria um dia, numa entrevista, bem mais tarde. Cedo terá aprendido a não confiar.
Porém, em 1947, o mundo reconhecia o valor desta voz, mais uma vez de um modo inesperado... Quando tudo parecia dar uma volta, deu outra e outra ainda, como se de uma dança se tratasse... A Companhia de Chicago, com quem tinha um contrato, faliu, dias antes da representação tão esperada, onde se encontrariam outras vozes célebres da Europa! Mas Giovanni Zanatello estava nos Estados Unidos, precisamente à procura de vozes, para o Festival de Ópera de Verona desse ano. Contrata-a para cantar “A Gioconda”. Era o sucesso a rondar a vida de Maria Callas.
Durante os ensaios, conhece um amante de ópera, Giovanni Baptista Meneghini, industrial muito rico, com quem casa a 21 de Abril de 1949. Marido, Meneghini torna-se também empresário de Callas, gerindo o êxito quase absoluto dos anos cinquenta, com momentos inesquecíveis da Divina, desde o Scala de Milão a outros lados. No próprio dia do casamento embarcara para a Argentina, para cantar no “Teatro Colon”, em Buenos Aires.
Os anos cinquenta são também de convívio social intenso e, acompanhada do marido, Callas frequenta os ambientes mais ricos e sofisticados. Assim conhece Aristóteles Onassis, o mítico armador milionário grego, em Veneza, por intermédio de Elsa Maxwell, uma anfitriã americana.
A determinada altura, tremendamente magra e frágil, Callas começa a evidenciar sinais de fadiga. A diva abandona uma gala, onde se encontrava o Presidente Italiano, em Roma, a 2 de Janeiro de 1958, a seguir ao primeiro acto de “Norma” de Bellini. A crítica foi severa, mas a diva seguiu, aparentemente indiferente, envolvendo-se em novos incidentes, como uma discussão com o Director de La Scala, em Maio do mesmo ano.
Em Dezembro, reaparece com todo o seu esplendor, na Ópera de Paris. Onassis assiste e percebe-se que o seu interesse vai para além da voz. Ele quer a mulher que não lhe resiste. No ano seguinte, o casamento com Meneghini termina, depois de um cruzeiro no célebre iate Christina, onde também viajou Winston Churchill.
São dois anos de envolvimento amoroso com um dos homens mais poderosos do mundo do dinheiro e Callas abdica de quase toda a sua vida artística para o acompanhar. Os fotógrafos perseguem-na, porque o mundo devora escândalos e a imprensa vende-os a alto preço. É um preço bem alto que Callas começa a pagar com este romance: primeiro o afastamento dos palcos e finalmente a rejeição de Onassis, que casa em 1968 com Jackeline Kennedy, uma das mulheres mais bonitas da época, viúva do presidente John Kennedy.
São várias as tentativas de regressar às luzes e aos aplausos, mas Callas apenas voltará aos palcos para um canto de cisne, doloroso e prolongado. Um amigo de longa data, tenor, Di Stefano, convence-a a participar com ele, numa série de recitais. A causa é nobre: o dinheiro destina-se ao tratamento da filha do tenor. “...um êxito pessoal, mas um insucesso artístico...” dizem os críticos, em jeito de balanço, depois de terminada a tournée, em 74.
Onassis morre em 75 e dois anos mais tarde, em Paris, no seu apartamento, a 16 de Setembro, Callas morre também, no meio da mais completa solidão e tristeza.
Caiu o pano, sem palmas. Calou-se a voz da protagonista grega de uma tragédia: a sua própria vida.

1 comentário:

Anónimo disse...

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