7 de abril de 2009

Em vez de nós- Ainda ontem, pelo MEC

Dizem os cínicos que estamos sempre a chorar a nossa desgraça e a nossa morte, quando a entrevemos na desgraça e na morte dos outros. Sabemos todos que uma vida vale tanto como a outra. Mas a verdade é que, quanto mais as desgraças e as mortes se aproximam de nós, mais nós choramos.
A compaixão não consegue nem deve separar-se do egoísmo. É quando a tragédia nos sussurra "podia ter sido aqui; podias ter sido tu" que mais nos comovemos. É difícil olhar para a catástrofe no Abruzzo e não reconhecer caras e casas portuguesas, abatidas pelo mesmo terremoto que nos ameaça. Está errado; blá blá blá; havia de nos vir o coração à boca sempre que há um terremoto, seja onde for. Mas não é assim que funciona o coração humano e a pena, por muito dúbia e etnocêntrica que seja a origem dela, é rara de mais para se coibir ou relativizar.
Dizem os irlandeses, quando vêem um mendigo: "There, but for the grace of God, go I". Lévinas foi mais longe: o desconhecido que ali está, que olha para nós, a ver se o ajudamos ou apenas reconhecemos e tratamos como ser humano, é Deus. Deus é o outro: este parece ser a parte boa do recado de todas as religiões do mundo. (A parte má é "mas nós somos os únicos que estão com Deus").
Faz dó. Faz medo. Faz dar graças pela nossa sorte enquanto se chora a sorte daquelas famílias italianas. Podía-mos ter sido nós. É bom que se saiba. E que, seja num sentido religioso, científico ou aleatório, elas sofrem e morrem em vez de nós. Obrigados.

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