20 de abril de 2010

Para as minhas amigas avós...

Mguel Esteves Cardoso

O meu neto António, que tem um ano e mês, já fala - mas ainda não conversa. Mas exprime-se muito bem. E ai de quem não compreender ou obedecer os desejos bem claros do nosso novo Rei. Embora recompense com magnanimidade quem não o contrarie. A mãe dele, a minha filha Tristana, pede-me para falar com ele em inglês. Pois bem. Assim farei. Até porque, quando cá esteve no sábado, o António e eu entendemo-nos como se estivéssemos num western. Só com olhares, sorrisos e sobrancelhas. Ele era o triunfante Gary Cooper em High Noon. Eu era Lloyd Bridges, o subxerife que desiste.

O neto é um recriador de atenções. Pára numa flor; depois noutra; examina um pão. Força-nos a reparar nas coisas que nos escaparam. Quando tentamos fazer o mesmo ("Olha os patinhos, António!"), não liga. Desobedece e, desobedecendo, mostra. Não somos nós que lhe mostramos o velho mundo - é ele que nos deixa entrar no mundo dele. É novinho em folha.

Ando ansioso para conversar com ele, mesmo em inglês. Conto os meses que faltam. Mas ele reconfortou-me: "Tem calma, avô. Esse processo comunicativo já está em marcha há muito tempo. E está a ser bom. Gosto mais da tua mulher do que tu mas, de resto, podes contar com a minha aprovação provisória."

E soube-me tão bem! Mal eu começo a aprender como ser avô, já ele sabe tudo o que vale a pena saber sobre ser neto. Somos aliados naturais. Não é preciso estarmos com fitas. A não ser aquelas em que entrou Gary Cooper.

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