24 de agosto de 2010

Tudo está confuso. Tudo está bem. Tudo está como deveria estar. Não há mundo que acabe às oito e doze da noite. MEC

Antes de jantar- Miguel Esteves Cardoso - 24-08-2010
Várias pessoas me têm perguntado, sendo eu uma pessoa que está no segredo do que vai acontecer, se o mundo vai mesmo acabar em 2012. É tudo gente que sobreviveu ao millenium bug de 2000. Contrariada, talvez. Afinal 2000 é um número mais aterrador, para quem gosta de ter medo mas não liga à aritmética, do que 2012.
Mesmo assim, a ideia que vamos todos morrer daqui a um ano e picos é irresistível, porque elimina o futuro - mais o trabalho e a preocupação que ele implica. Nada atrai tanto como uma data certa. Os obsessivos aproveitam para pôr a casa em ordem. Os chateados aproveitam para se divertirem o resto da vida.
Aqui em casa desenvolvemos, para contrariar o pessimismo de 2012, uma teoria crono-paranóica igualmente convincente - isto é, nada. Acertámos que o dia, como o mundo, tem 24 horas. Jesus nasceu à meia-noite, às zero horas e zero minutos e Portugal fundou-se, muito tempo depois, 27 minutos antes do meio-dia, às 11 horas e 43 minutos. A tempo de fazer o almoço. Os anos 60 a 99 de cada século não contam - são intervalos de recreio. Por exemplo, o mundo entre 1960 e 1999. Estamos agora em 2010: seja às oito e dez da noite. Ainda vamos jantar e é possível que ainda despachemos, metaforicamente, antes de morrer à meia-noite, no ano 2400, uma tosta mista em 2345, 15 anos antes da nossa civilização desaparecer.
Tudo está confuso. Tudo está bem. Tudo está como deveria estar. Não há mundo que acabe às oito e doze da noite.

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