2 de outubro de 2004

Quando Portugal- Brasil empatou no coração de Edson Athayde

Até breve.

ÀS VEZES IR É TRISTE MAS FICAR NÃO É MELHOR. PARTIR também é quebrar, romper, destroçar o que está mais para o enguiço do que para o que está a funcionar. Partir para outra, como se a outra fosse a amante fogosa, aquela que faz tudo na cama ou na lama, a sedutora despudorada, melhor que a vidinha lá de casa, a vidinha rezingona e despeitada, a vidinha de sempre, mulher obtusa e sem graça, de rolinhos no cabelo, avental sujo de ovo e chinelas gastas. Ir sem data para voltar. Sem saber se vai à ou para, sem saber de nada.

Depois de 13 anos por aqui, estou neste momento (partindo do princípio que hoje é sexta e que está a ler este DNA entre as 10 da manhã e as 10 da noite) dentro de um avião da TAP de regresso ao Brasil, mais precisamente ao Rio de Janeiro. Não, não estou a ir para sempre. Pelo menos essa não é a intenção. Mas quando aqui cheguei também nunca poderia imaginar que viveria quase uma década e meia em Portugal. Que aqui faria tantas coisas a ponto de poder publicar uma «carta de despedida» num jornal. Coloco as aspas pois não se trata de uma despedida verdadeira. Daquelas que alguém que sabe que não voltará escreva para arrancar soluços e choros de quem vai ficar. O plano não é esse. Apenas decidi viver numa ponte aérea continental entre o Rio e Lisboa, as cidades que amo no planeta (e olha que fui bastante infiel na minha procura da cidade perfeita, dando verdadeiras voltas à Terra, fazendo juras de amor eterno a Barcelona para depois abandoná-la sem nem deixar um bilhete, tendo flirts passageiros com Nova lorque, namoros intempestivos com Londres, "one nigth stands" com um sem número de localidades). O plano (se é que há um plano) é esse. Quero tornar-me no telemóvel de mim mesmo. Está aqui e em outra lugar. Sempre contactável e sempre contactando. Conectado em tudo. Mas completamente unplugged, um cidadão acústico do mundo.

Aí pergunta você: «e o que é eu tenho a ver com isso?» Sei lá. Você é que é meu leitor. De si, acho eu, nunca li nada. Nunca fui mexer nas gavetas da sua vida, nem na lata de lixo da sua alma. Nessa relação completamente desproporcional entre um autor e o seu leitor, não controlo as razécs do seu interesse nos meus textos. Mas suponho que de vez em quando preciso dar uma satisfação sobre o que está a acontecer comigo até para que você entenda melhor o que escrevo.

O que escrevo: durante seis meses publiquei aqui pequenas histórias sobre tristes figuras, habitantes de um universo bem pouco realista. Agora, tal proposta chega ao fim. Daí mais uma despedida. Volto para a semana ou daqui, no máximo, a quinze dias, num novo formato de crónica (mas sobre isso, nada melhor do que o Pedro Rolo Duarte, editor desse albergue espanhol, que publica coisas até mesmo de um cronista como eu, explicar).

Então é isso. Até breve. E um abraço do tamanho do oceano atlântico.

1 comentário:

virna disse...

Achei muito bonita esta frase:
"ÀS VEZES IR É TRISTE MAS FICAR NÃO É MELHOR"
É um ensinamento.
Um beijo,
Virna.