3 de março de 2006

DEZ ANOS DEPOIS,

DURAS SÓ INSPIRA UM PUNHADO DE OBRAS

Dizem os especialistas de Marguerite Duras que nunca a obra de um autor foi tão criticada, tão apaixonadamente defendida, tão injuriada, tão venerada. Mas a vaga de livros, de conferências, de programas que seria de esperar - ou de recear - nesta efeméride da sua morte não se concretizou. Como se o monstro sagrado que teimou em transformar a sua vida em destino - mas que respondia aos candidatos a biógrafos: "Um escritor não tem história" - continuasse a intimidar curiosos e indiscretos.
Há, no entanto, uma meia dúzia de publicações programadas para este décimo aniversário da sua morte. São biografias, testemunhos, escritos inéditos, memórias, que vão chegando às livrarias, mas sem suscitarem uma avalanche de críticas na imprensa. Marguerite Duras, la vie comme un roman, de Jean Vailier (editora Textuel), é uma biografia ilustrada, em 200 curtas páginas, de Marguerite Donnadieu, o verdadeiro nome da escritora. Do mesmo autor, vai sair em Abril o primeiro tomo de uma biografia: C"était Marguerite Duras, 1914-1945 (editora Fayard).
Outro especialista da obra de Duras, Alain Vircondelet, optou por fazer um passeio literário pelas terras que marcaram a escritora, em Sur les pas de Marguerite Duras (Presses de la Renaissance). O autor leva o leitor até à Indochina, a terra da infância e da adolescência de Duras, a Saint-Germain-des-Près, é claro, o bairro boémio e intelectual de Paris até aos anos 70, e a Trouville, na Normandia, onde Duras comprou uma casa, quando a fortuna se cruzou com a sua obra.
Em Marguerite Duras, 5, rue saint-Benoit, 3è étage gauche, Jean-Marc Turine conta 25 anos de amizade com a escritora, fazendo do célebre apartamento parisiense o palco deste quarto de século de recordações.
Um inédito reúne cinco entrevistas de Marguerite Duras ao (defunto) Presidente da República francesa François Mitterrand, que foi o chefe da rede de resistentes a que pertenceu a escritora durante a II Guerra Mundial. O título, Le bureau de poste de la rue Dupin et autre entretiens recorda precisamente esta época. Nos media, a rádio France-Culture repara o vazio geral com uma série de oito programas sobre Duras. E é preciso ir até à Universidade de Fez, em Marrocos, para se encontrar um seminário ambicioso em memória da escritora. Os franceses estão a dedicar mais atenção aos 15 anos da morte do cantor e poeta Serge Gainsbourg. A.N.P., Paris